Não deixe de consultar o Blog dos Vereadores eleitos pelo PS em http://fazerporsalvaterra.blogspot.com - Não deixe de consultar o Blog dos Vereadores eleitos pelo PS em http://fazerporsalvaterra.blogspot.com

quarta-feira, junho 25, 2008

Jornal Fundamental


Entrevista - Vereador PS

«A imagem de super-poderosa da presidente veio por aí abaixo.»
2008-06-05

Nuno Antão, vereador eleito pelo partido socialista na Câmara de Salvaterra de Magos, sobre o processo que envolveu os eleitos do bloco de esquerda e a visita da Polícia Judiciária à autarquia salvaterrense.



É possível fazer um balanço sucinto do desempenho do bloco de esquerda neste mandato na Câmara de Salvaterra de Magos?
É uma desilusão. Aquilo que podemos definir como o projecto "Anita" em Salvaterra de Magos esgotou...

Projecto "Anita"?
Durante este mandato, e até nos dois mandatos anteriores, a figura central do projecto do bloco de esquerda nunca deixou de ser a presidente da Câmara. Por essa razão eu chamei-lhe projecto "Anita". Está esgotado, é como uma vinha velha, que tem muita parra e pouca uva. Tem-se notado uma perda progressiva da capacidade de resolver os problemas das pessoas, que era um dos argumentos difíceis de contrariar por parte das oposições. A resolução desses problemas arrasta-se meses a fio, o projecto esgotou e já não há capacidade para ir mais além. Nós assistimos, noutros concelhos aqui à volta, a autarcas que estão há mais tempo nas câmaras mas que têm capacidade de renovar os seus projectos, mas isso não acontece em Salvaterra...

O PS votou favoravelmente o plano de actividades e o orçamento para 2006, o primeiro deste mandato. Nessa altura não tinha a mesma opinião que sustenta actualmente.
Votámos favoravelmente o primeiro orçamento do mandato na certeza que algumas coisas não eram mesmo para ser feitas, porque estávamos em fase de transição entre quadros comunitários de apoio. Em 2007 já tivemos muitas dúvidas e desde logo levantámos a questão das expectativas que estavam a ser criadas nas populações, com projectos para tudo e mais alguma coisa, a todos os níveis...

Ainda assim, deram o benefício da dúvida e votaram de novo favoravelmente.
O que já não aconteceu para 2008, porque continuamos a ver os mesmos cenários, com a mesma lógica de sempre: procurar apoios comunitários onde eles não existem.

Vivemos momentos difíceis na economia nacional e até num contexto mundial. Essa conjuntura pode justificar as dificuldades que a Câmara tem em concretizar projectos?
Há sempre uma relação. O efeito pode não ser imediato, mas há sempre um efeito que vem a verificar-se. Mas nós estamos a falar de investimento público em infra-estruturas, e aqui a crise nacional ou internacional interfere pouco. Os fundos comunitários estão sempre disponíveis, ainda que nos períodos entre quadros as verbas sejam residuais. Na minha óptica, a questão fundamental tem a ver com incapacidade: o projecto do bloco de esquerda esgotou, e aí reside a questão essencial.

Mas reconhece algum mérito no trabalho de Ana Cristina Ribeiro ao longo dos mandatos que tem protagonizado na Câmara. Ou não?
É evidente que há coisas que foram bem feitas, mas qualquer pessoa as faria se estivesse investida no cargo. Eu penso que há aspectos que nem deveriam ser objecto de discussão ou de promessa política, como é o caso da rede de águas, cuja renovação é essencial. O saneamento ou a rede viária estão no mesmo patamar. Isto é o básico para qualquer munícipe que esteja disponível para gerir o concelho.

Traçou um quadro de incapacidade em relação à presidente. Considera que os munícipes têm consciência desse cenário? Estarão maioritariamente de acordo consigo?
Percebem claramente. Nós sentimos isso. O partido socialista venceu eleições atrás de eleições no concelho de Salvaterra e há um momento em que perde as eleições, em 1997. Há um ciclo que se inverte, verificando-se na altura uma quebra total de confiança no PS por parte das pessoas, que acreditaram noutro projecto. Todas as obras levadas a cabo pelo bloco de esquerda no primeiro mandato estavam projectadas pelo PS e tinham financiamentos garantidos.

A presidente diz que encontrou uma Câmara muito desorganizada e cheia de dívidas. Reconhece-lhe razão nesse contexto?
Não, não reconheço nada daquilo que foi dito na entrevista ao Fundamental. Havia uma dívida da Câmara à banca, mas pergunto: qual das câmaras municipais não a tem? Havia uma dívida de curto prazo a fornecedores, perfeitamente normal. E tanto os valores não eram exagerados nem preocupantes que foi possível ao longo dos anos seguintes manter o mesmo valor de dívida. Se formos apurar aquilo que é a dívida do município actualmente, concluiremos que é sensivelmente igual, não havendo grande diferença.

De qualquer forma, as pessoas não se reviram no PS de 1997 e empreenderam a mudança. Onze anos depois, o Nuno Antão sente que tem uma herança difícil nesse particular? Os salvaterrenses ainda estão ressentidos com o PS?
Já não sinto absolutamente nada disso. Confesso que na fase inicial da candidatura a este mandato ainda senti um pouco esse desconforto das pessoas em relação aos socialistas. Julgavam que era a mesma coisa, mas já constataram que não é. Eu tenho muito orgulho e sou solidário com os meus camaradas que geriram a Câmara até 1997, e quando faço análises ao passado faço-as de acordo com o contexto que se vivia na altura, até porque esse período, face ao que se vê hoje, é um período que não deslustra nem envergonha as pessoas que cá estiveram. Eu costumo dizer que a marca social desta Câmara é ter construído muita habitação social por ano, isto se chegarmos ao fim do mandato e estiverem construídas as doze habitações sociais previstas para Salvaterra de Magos. Essa é a marca social desta gestão. É como as escolas: quantas foram construídas nestes últimos dez anos? Eu não quero errar, mas acho que foram dois jardins de infância no concelho todo.

Acredita que 2009 poderá trazer de novo um cenário de mudança a favor do PS de Salvaterra?

Em 1997 o povo fez o seu julgamento e optou pela mudança. Numa primeira e numa segunda fase, acreditaram no projecto do bloco de esquerda. Neste momento, as pessoas já olham novamente com confiança para o partido socialista. Se analisarmos os resultados das eleições legislativas, das europeias e das presidenciais, verificamos que as pessoas nunca deixaram e votar no partido socialista. Eu sinto que as pessoas estão a retomar a confiança em nós.

Vai ser de novo candidato à presidência da Câmara em 2009?
Eu acredito nas instituições democráticas e é através das mesmas que estas coisas têm que ser definidas. O que lhe posso dizer é que neste momento sou candidato a candidato. Essa será uma escolha colectiva da concelhia do partido socialista. Eu estou disponível mas o partido poderá ter uma solução melhor e eu próprio poderei perceber que essa é uma solução melhor.

Qual é o problema mais grave que identifica no município de Salvaterra de Magos?
Não consigo identificar apenas um problema, ou aquele que possa ser o mais grave no concelho. Estão previstos um conjunto de investimentos para a área metropolitana de Lisboa que vão ter grande repercussão no concelho. O novo aeroporto de Lisboa, a rede de TGV, as plataformas logísticas a Norte e a Sul do Tejo. São investimentos públicos gigantescos, de uma dimensão nunca antes vista no país, que vão ocorrer ao pé de nós. É difícil identificar um problema entre tantos ou dizer que esse é prioritário em relação a outros. O concelho precisa de acompanhar essas obras que vão ser desenvolvidas.

O concelho de Salvaterra está preparado para as consequências inerentes à fixação do aeroporto em terrenos do município vizinho de Benavente?
O desenvolvimento demográfico da área metropolitana de Lisboa empurra as pessoas para longe da capital e elas vão começar a fixar-se aqui nas zonas da lezíria e do oeste. Os pólos universitários vão começar a ficar muito longe. Nós temos espaço e condições para que desde já se comece a trabalhar no sentido de atrair universidades para o território do município. Outra questão tem a ver com as zonas industriais, que permitem a criação de empresas...

A esse respeito, a oposição acusa a presidente de não ter garantido atempadamente terrenos que hoje pudessem constituir uma zona industrial atraente a investidores. Ana Ribeiro responde, afirmando que o PS esteve na Câmara até 1997, também o poderia ter feito e não o fez.
Eu não entendo quem se justifica por não fazer com o facto de outros também não terem feito. Não é essa a leitura que faço da gestão da coisa pública. O concelho de Salvaterra esteve isolado durante anos. Havia um grande constrangimento no acesso a Benavente com uma ponte estreita e sem condições, havia uma ponte a Este, em Santarém, também sem condições. De 1998 para cá temos uma nova ponte em Benavente, temos a ponte Salgueiro Maia, temos uma auto-estrada e um nó de acesso à mesma e agora temos a ponte da Lezíria. Ou seja, de 98 para cá é que foram os anos das oportunidades perdidas. A história dos últimos dez anos é isso que nos diz.


A oposição diz com frequência que as negociações nas quais entra a presidente da Câmara raramente chegam a bom termo.
É um facto, que também tem sido demonstrado pela história dos últimos dez anos. Recentemente parece que já houve a aquisição de um terreno para o jardim de infância do Granho, um negócio bem sucedido e que teve a participação directa da presidente, como ela gosta de referir. Ora, não me parece que seja preciso referir que a presidente da autarquia esteve envolvida nas negociações seja do que for. Essa é a sua obrigação. Também temos sido surpreendidos com tiradas fabulosas sobre o que é o trabalho da presidente, que trabalha de noite, trabalha até tarde e ao fim de semana. É o sinal que o projecto esgotou, já não há argumentos.

Que opinião tem da presidente Ana Cristina Ribeiro?
Tenho respeito institucional pela presidente da Câmara. Não a conheço, sinceramente não tenho interesse nenhum em conhecê-la, mantenho por ela um respeito institucional. Como presidente da Câmara, actua segundo um método com o qual não concordo e por isso é que sou opositor.

Como viu os acontecimentos que há pouco mais de um ano tiveram lugar em Salvaterra e que culminaram com a presidente, o vice-presidente e o presidente da Junta de Salvaterra constituídos arguidos?
Foi o resultado de um conjunto de denúncias vindas não se sabe de quem e trata-se de um caso que, segundo sei, não teve desenvolvimentos, pelo que me abstenho de comentar o caso nesse sentido.

Mas estranhou o que aconteceu?
Não, não estranhei absolutamente nada.

Não se revê naquelas opiniões que dizem que o que aconteceu em Salvaterra foi uma retaliação pelo que estava a acontecer na Câmara de Lisboa com origem em denúncias de Sá Fernandes?
Eu não tenho uma visão tão redutora do funcionamento do país nem dos órgãos de soberania. Estamos a falar de uma investigação que é conduzida de forma independente. Se algum dia eu acreditasse que tal era possível, então deixava de acreditar que vivo num Estado de Direito.

Esses acontecimentos vieram abalar a imagem da presidente junto da população?
Acabam sempre por abalar. É inevitável que isso aconteça. Tenho vivido esse drama também a nível familiar e não tenho dúvidas nenhumas que abala. Aquela imagem super-poderosa que a presidente ostentava veio por aí abaixo. É claro que podem não ser problemas que justifiquem a acção judicial, mas há problemas e as investigações da Polícia Judiciária são normais num Estado de Direito.

Mas é normal que venham as televisões e toda a comunicação social atrás?
É uma situação recorrente. Há colegas seus da comunicação social que nesta altura do ano passam dias inteiros no aeroporto à espera que cheguem jogadores de futebol. Também há os que passam os dias atentos ao que se passa no TIC e na Polícia Judiciária.

Nuno Cláudio

segunda-feira, junho 02, 2008